quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Papagaio

Era quase de noite quando meu pai foi recolher o papagaio que estava solto num velho pé de macieira ao lado da casa. Ao se aproximar da árvore onde havia pendurado a gaiola com a ave, não avistou ave alguma.

Chamou:

"Rico!"

Nada do bichinho responder.

Ao redor, não havia indícios de que algum animal – gato, cachorro, gambá, gavião – pudesse ter se aproveitado da indefesa criatura.

"Riiiiicooo!"

Nada.

Por precaução, meu pai sempre mantém as asas do Rico aparadas de tal forma que ele possa apenas plainar ou alçar voos de curta distância.

Da janela, percebi que havia algo acontecendo. Meu pai zanzando de lá para cá, olhava de quando em quando para o alto das copas das árvores.

"O que é que foi, pai", perguntei.

"O Rico sumiu", respondeu ele. "Quando cheguei aqui pra recolher a gaiola, ele já não tava mais... ele nunca fugiu."

"Ih, será que algum bicho não o pegou?"

"Não, ele deve ter voado ali pr'aquelas árvores", disse meu pai apontando as árvores do lado de baixo do terreno. Depois, com uma vaga esperança, acrescentou: "não... não tem nenhum sinal de que algum bicho o pegou..." – e continuou procurando pelas redondezas.

Logo estávamos todos à procura do bicho. Eu, minha mãe e mais um amigo que estava em casa na ocasião. Andávamos de um lado a outro pelo terreno, cada um fazendo a busca em lugares diversos.

Eu, por minha vez, atravessei a rua, que fica a uns cem metros da casa. Campeei pelas copas das araucárias do terreno em frente.

Tudo em vão.

Depois, fui até o terreno que fica na esquina do lado e em frente a minha casa. Penetrei o mato por uma trilha junto ao muro que faz a divisa. Subi o íngreme terreno. O ruído dos carros que transitavam pela rua não me deixava ouvir se o papagaio respondia aos chamados.

De repente, um bando de papagaios selvagens passou por cima de minha cabeça com aquela algazarra que é natural da espécie.

"Iiihh, será que o Rico não voou pra junto deles...", pensei.

Alguns segundos depois da revoada, ouvi, já de dentro da mata do pequeno monte, aquela voz rouca e de timbre médio-agudo, peculiar de papagaio, atiçando a cachorra Tina:

"Pega-pega-pega! Tiiiiinaaa! Cô-cô-cô-cô-cô"

Lá estava o papagaio fujão no alto de umas vassouras. Voltei correndo para casa para avisar os outros.

Algum tempo depois, o Rico já estava de volta à gaiola e em segurança. Seus olhos cresciam e minguavam como se estivesse com fome ou assustado. E dizia:

"Boa tarrrde!"

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