Maria
da Graça sentiu os primeiros sintomas do parto no início daquela manhã de
domingo. Gritou pelo marido, mas não obteve resposta. João Antônio, como de
costume, saíra cedo para o campo logo após a ordenha e de ter tratado as
galinhas.
Era o fim do inverno e os dias estavam cada vez mais longos.
Mas o frio ainda insistia em continuar. As primeiras flores do velho ipê só esperavam
os dias gelados irem embora de vez para apontar e anunciar a primavera que não
tardaria em chegar.
As novas folhas das outras árvores do quintal que iam despontando
queimaram-se todas pelas geadas dos últimos dias. Outros brotos surgiam e, logo,
logo, cobririam de verde os galhos secos e cinzentos. Todavia outra geada vinha
e queimava tudo novamente. Mas os dias, cada vez mais quentes, eram sucedidos pelas
noites frias e geladas. Era a primavera que principiava anunciando toda a sua
força.
João Antônio, que nos últimos dias andava preocupado com o
estado da mulher, voltou mais cedo do campo naquele domingo. Fora apenas dar
uma olhada em algumas vacas do coronel Osório que estavam para dar cria. Lá
pelas dez e meia da manhã, voltou.
Ao entrar no rancho, encontrou a mulher estendida na cama,
abanando-se toda. As dores do ventre faziam-na contorcer o corpo. O líquido da
bolsa que estourara escorria-lhe por entre as pernas. “É, a coisa é pra hoje
mesmo...”, pensou João Antônio tentando não perder a calma.
“A lua mudou e a brasina velha também já criou...”, comparou
a gravidez da mulher com a prenhez das vacas. Nesse momento, João Antônio, que
ainda tentava manter a calma, agitou-se de tal forma que não atinava o que
fazer. A mulher, à sua frente, contorcendo-se de dor, gritava “Acuda, homem,
por amor de Deus!”.