No
forro da casa, o gambá move-se de um lado a outro causando um barulho surdo. “Tenho
de dá um jeito nesse desgracido” – pensou João Antônio enquanto reforça o fogo
com uns pedaços de lenha seca. Depois, sentou-se no cepo ao canto da cozinha e
fecha os olhos. Está visivelmente cansado pela noite mal dormida. Maria da
Graça também dormiu um sono agitado. “A coisa é capaz de ser pra hoje...” –
refletiu. E enquanto o pensamento o ia levando pelos meandros da memória, pelas
vias das lembranças de coisas que aconteceram nos últimos dias, cochilou.
Súbito acordou, meio que assustado. Ficou alguns instantes
com um ar palerma. De repente, lembrou-se do feijão e do leite que havia posto
sobre a chapa. Por pouco o leite não derramou. Estava já borbulhando nas bordas
da velha vasilha amassada pelo uso e pelo tempo. Verteu-o numa caneca. O feijão,
comeu ali mesmo na panela, arranhando com a colher o fundo do recipiente. O
calor do alimento o deixou reconfortado. “É bom ter algo quente no estômago” –
pensou – “eu tava era com fome”. Bebeu em seguida a caneca do leite já morno.
Dentro de pouco tempo, seu corpo cambou para o lado da
parede. Fechou os olhos e adormeceu novamente. Pouco depois, acordou com o
canto esganiçado do galo anunciando a aurora que não tardará a chegar. João
Antônio abriu os olhos e, a princípio, não compreendeu nada. Uma sensação de
estranhamento o dominou. Está habituado a acordar sempre no mesmo quarto, com as
mesmas paredes, a mesma cama, a mesma mulher a ressonar a seu lado.
Olhou desconfiado para o lado e não viu nada disso. O que
viu foi uma caixa de lenha, o fogão. Recobrou a consciência. Lembrou-se que acabou
dormitando na cozinha. Esfregou os olhos, bocejou, ajeitou-se no cepo e respirou
fundo. O ar renovou-lhe o ânimo e o discernimento das coisas. Permaneceu
sentado mais alguns instantes. De chofre veio-lhe à memória a lembrança da
mulher. “Será que já nasceu?”, perguntou-se em silêncio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário