sábado, 30 de janeiro de 2010

A frase (3)

"O que foi feito é preciso conhecer para melhor prosseguir" - da música O que foi feito deverá, de Milton Nascimento e Fernando Brant.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Sebos

Sempre que posso vou ao sebo. O meu sebo favorito é o Book Center, o da Rua Sete de Setembro, aqui em Blumenau. Lá, encontro livros de toda espécie. Gosto de procurar livros antigos e de autores sem muita exposição, principalmente livros que não são encontrados nas prateleiras de livrarias convencionais. Tenho uma preferência por livros de autores catarinenses. Nessas minhas procuras todas que fiz, encontrei alguns dos meus autores prediletos: Guido Wilmar Sassi, Enéas Athanázio, Salim Miguel, Flávio José Cardozo, Harry Laus entre outros.

    Do Guido, encontrei e adquiri quatro volumes: os romances São Miguel, A Geração do Deserto e O Calendário da Eternidade; mais a coletânea de contos A Bomba Atômica de Deus.

    Do Salim, encontrei o Velhice e outros contos, seu primeiro livro – uma raridade – em sua segunda edição, de 1981, cuja primeira edição é de 1951; e o livro Aproximações - leituras e anotações, de 2002.

Já o Enéas Athanázio é o campeão dos livros em sebos. Tenho quase toda a sua bibliografia, d'O Peão Negro (1973) ao A liberdade fica longe (2007). Ao todo, são treze volumes, de contos e ensaios.

Têm muitos livros e autores que ainda hei de adquirir e ler por esses sebos todos. Lá, sei que os encontrarei.

E quem disser que não lê por que o preço do livro está muito caro etc., é porque desconhece os sebos ou realmente não é muito chegado a uma boa leitura, pois encontrará livros em bom estado – alguns até parecendo novos – por uma faixa de preço entre R$ 3,00 e R$ 20,00.

Um viva aos Sebos e boas leituras!

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Eu e a Literatura Catarina

Conheci Salim Miguel no IV Congresso de Língua e Literatura, organizado pelo professor Olivo Pedron e realizado pela FURB, em julho de 2002, no qual o autor de A Morte do Tenente e Outras Mortes palestraria sobre Guido Wilmar Sassi, morto naquele ano, e que seria homenageado no Congresso.

Não conhecia a literatura de ambos, somente os seus nomes. Todavia, foi a partir daquele dia que meu interesse pela literatura catarinense tornou-se real.

Já no semestre seguinte, nas aulas de Literatura Catarinense, ministradas pelo professor Olivo Pedron, aprofundei ainda mais o meu conhecimento acerca de literatura produzida em solo catarina e familiarizei-me com alguns nomes de escritores de importância, como Enéas Athanázio, Deonísio da Silva, Othon da Gama D'Eça, Tito Caravalho, Virgílio Várzea, além do próprio Salim Miguel e do já citado Guido Wilmar Sassi, entre outros.

Do Salim, havia lido somente um de seus livros – As Confissões Prematuras – e ao pegar o autógrafo do mesmo após sua palestra, contei-lhe que era neto de César Martorano, de São Joaquim, no que Salim sobressaltou-se. Ele que havia passado uns dias na Fazenda de meu avô lá em São Joaquim. Daí em diante, a conversa fluiu muito bem. Assistindo ao nosso colóquio animado, o professor Pedron convidou-me para juntar-se a eles para o almoço. Fomos os três então ao restaurante Moinho do Vale.

    Lá, Salim falou-me de sua história, indicou-me alguns livros – dos quais alguns ainda não os li, como Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos –, deu-me dicas de métodos de escrita e observação etc. Enfim, foi uma das melhores aulas de literatura que tive na minha vida. Por causa disso, sou muito grato e tenho uma admiração profunda ao Salim Miguel, que além de grande escritor – um dos maiores do Brasil – possui uma modéstia ímpar como pessoa.

    Meu relacionamento com a literatura catarinense só se fez crescer após aquele encontro. Hoje, depois destes anos todos, pretendo dar uma pequena contribuição às letras deste Estado.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Gambá

O gambá, todas as noites, percorre o mesmo percurso. Habita o forro da casa. O cachorro, quando o avista, late desesperado. O gambá, porém, ignora o cão e os seus latidos frenéticos. Quando está para descer do seu novo hábitat, permanece no galho da árvore que dá acesso ao telhado como que zombando do vigia, que a cada dia que passa, late com mais vigor.

    De quando em vez, o gambá urina lá de cima do forro. O líquido escorre pelas paredes internas do edifício. "Ui, que odiado!", diz minha mãe, prometendo para si que no dia seguinte chamará o Nenê, o jardineiro e o responsável pela organização da propriedade, para capturar o inquilino indesejado.

    A captura é feita com cachaça. O bichinho é louco por uma cachaça. Bebe e sai cambaleando, trôpego. Por esse motivo é que se diz: "tá mais bêbado do que um gambá".

    Tem dias que o barulho que vem do forro de madeira da casa, para os ouvidos desavisados, parece ser o barulho de alguma pessoa, um ladrão talvez, que penetrou a morada. Corre de um lado a outro no teto da sala. Não tenho certeza se é apenas um gambá que habita o forro ou se uma família inteira – pai, mãe e crias. Nunca estudei a fundo o comportamento de um gambá. Sei apenas que é um marsupial, parente próximo do canguru. Lá na região serrana, o pessoal costuma chamá-lo de raposa. Acho que é porque ele, às vezes, ataca os galinheiros em busca de alguma galinha desatenta. Deve ser por isso.

    Ele agora deu em morar nos forros de nossas casas. Por ser ele um animal arborícola, o motivo para tal atitude deve ser o desmatamento causado pelo homem. Não vejo outra razão melhor para tal comportamento. Haja vista ser o homem um dos seus predadores, matando-o apenas por conveniência.

Assim como um ladrão, invadiu a morada como se fosse um sem-terra. Mas para o nosso inquilino em questão, sua parceira e suas respectivas crias, o termo mais adequado seria sem-teto. Estão como que a reivindicar a posse da casa própria. Ou a motivação que o leva a tal comportamento deve estar relacionada à cachaça. O gambá tornou-se um alcoólatra inveterado.

Depois de alguns dias, minha mãe cumpre o que prometido a si mesma. Ao entardecer, tá lá o Nenê com a sua arapuca e o engodo – a cachaça.

Prepara tudo. A cachaça é colocada em um recipiente – na verdade uma lata de sardinha – que é posicionado bem ao centro da armadilha. Basta o invasor pisar o interior do embuste, que o mesmo se fecha, encalacrando, dessa forma, o posseiro.

Na hora prevista para a descida do gambá, ficamos todos ansiosos e espiando para ver se o bicho cai na cilada. Não sem antes prender o cão. Permanecemos mais ou menos uma hora aguardando o surgimento do animal perseguido. De repente, o focinho do bicho aponta por entre as telhas e a parede de tijolos. Hesita. Fareja. Parece que está desconfiado de algo. Aponta o focinho na direção da arapuca. Fica como que envolvido pelo olor da cachaça. Sai, enfim, de sua morada.

Para. Olha em redor como que farejando o seu destino. Desce até a metade da árvore-escada. Para novamente. Hesita por mais alguns instantes. Desce à calçada aonde a morte o espera com um bocado de cachaça. Fareja. Chega finalmente à arapuca. Mas o bicho é esperto. Seus movimentos são calculados. Aproxima-se do pote. Mete o focinho, esticando o pescoço por entre as grades da armadilha. Não chega a entrar na armadilha. Suga o líquido e sai ileso e cambaleando como que zombando de nós.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O Papagaio

Era quase de noite quando meu pai foi recolher o papagaio que estava solto num velho pé de macieira ao lado da casa. Ao se aproximar da árvore onde havia pendurado a gaiola com a ave, não avistou ave alguma.

Chamou:

"Rico!"

Nada do bichinho responder.

Ao redor, não havia indícios de que algum animal – gato, cachorro, gambá, gavião – pudesse ter se aproveitado da indefesa criatura.

"Riiiiicooo!"

Nada.

Por precaução, meu pai sempre mantém as asas do Rico aparadas de tal forma que ele possa apenas plainar ou alçar voos de curta distância.

Da janela, percebi que havia algo acontecendo. Meu pai zanzando de lá para cá, olhava de quando em quando para o alto das copas das árvores.

"O que é que foi, pai", perguntei.

"O Rico sumiu", respondeu ele. "Quando cheguei aqui pra recolher a gaiola, ele já não tava mais... ele nunca fugiu."

"Ih, será que algum bicho não o pegou?"

"Não, ele deve ter voado ali pr'aquelas árvores", disse meu pai apontando as árvores do lado de baixo do terreno. Depois, com uma vaga esperança, acrescentou: "não... não tem nenhum sinal de que algum bicho o pegou..." – e continuou procurando pelas redondezas.

Logo estávamos todos à procura do bicho. Eu, minha mãe e mais um amigo que estava em casa na ocasião. Andávamos de um lado a outro pelo terreno, cada um fazendo a busca em lugares diversos.

Eu, por minha vez, atravessei a rua, que fica a uns cem metros da casa. Campeei pelas copas das araucárias do terreno em frente.

Tudo em vão.

Depois, fui até o terreno que fica na esquina do lado e em frente a minha casa. Penetrei o mato por uma trilha junto ao muro que faz a divisa. Subi o íngreme terreno. O ruído dos carros que transitavam pela rua não me deixava ouvir se o papagaio respondia aos chamados.

De repente, um bando de papagaios selvagens passou por cima de minha cabeça com aquela algazarra que é natural da espécie.

"Iiihh, será que o Rico não voou pra junto deles...", pensei.

Alguns segundos depois da revoada, ouvi, já de dentro da mata do pequeno monte, aquela voz rouca e de timbre médio-agudo, peculiar de papagaio, atiçando a cachorra Tina:

"Pega-pega-pega! Tiiiiinaaa! Cô-cô-cô-cô-cô"

Lá estava o papagaio fujão no alto de umas vassouras. Voltei correndo para casa para avisar os outros.

Algum tempo depois, o Rico já estava de volta à gaiola e em segurança. Seus olhos cresciam e minguavam como se estivesse com fome ou assustado. E dizia:

"Boa tarrrde!"

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

‘Vó’ Joaca e suas histórias


Minha avó materna, Joaquina Palma Martorano, sempre foi uma pessoa muito querida e admirada por todos. Gostava de festa e vivia em constante bom humor, atributos estes herdados da família Palma. Eram raras às vezes em que saía dos trilhos. Quando acontecia, era sempre com resmungos – mais para si mesma do que para os outros – que reclamava do 'vô' César quando este se passava em seus momentos de empolgação ou por algum assunto em que a discórdia tomava conta.

Foram muitas as manhãs de verão que passamos, eu e ela, juntos e sentados nas duas cadeiras de balanço na varanda da sede da Fazenda Sumidouro. Ora conversando ora calados, apreciando a bicharada – bois, vacas, ovelhas, porcos, cavalos, bem-te-vis, pica-paus, carucacas, quero-queros, andorinhas, tesourinhas, canários etc. – e a paisagem que se espraia ao longe no chapadão em frente ao casarão: um tapete verde pontilhado aqui e ali por araucárias e dividido horizontalmente por um muro de pedra conhecido naquela região pelo nome de taipa, em cujo primeiro plano da paisagem abriga um açude onde os gansos e patos nadam calmamente.


Ficávamos horas e horas naquela condição: a 'vó' Joaca contando os causos de outrora ou alguma anedota ao estilo do Jeca-Tatu; e eu, um menino ainda nos meus dez ou doze anos, na cadência da cadeira de balanço e embalado pela sua voz calma e serena, fechava os olhos e imaginava as cenas que ela me descrevia, transportando-me no tempo e no espaço aos causos narrados.

Sempre quis voltar no tempo para testemunhar a vida dos nossos antepassados e aprender um pouco mais sobre os seus costumes. Pois sei que é conhecendo o passado que formamos um presente mais próspero e projetamos um futuro melhor.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

‘Vô’ César, um dendrólatra

Hoje, dia 07 de janeiro de 2010, seria o centésimo aniversário do meu avô César Martorano, pai de minha mãe. Ele que sempre quis alcançar essa idade. Faleceu dias antes de completar noventa e três anos de vida.

O 'vô' César sempre foi um amante da vida e das pessoas. Acho que herdei dele o meu amor pela natureza. Pelas árvores, principalmente.

    Certa vez, já nos últimos anos de sua vida, meu avô se pôs a caminhar por entre as araucárias e as bracatingas que crescem pela chácara onde morou por quase toda a sua vida e onde está a casa dos meus pais lá em São Joaquim. Apoiado por sua bengala ia de árvore em árvore, abraçando-se aos troncos das mesmas. Dizia que, fazendo isto, absorveria a energia das mesmas.

Meu avô era um dendrólatra. Não sabia ele, acredito, que este é o nome que se dá a quem gosta de árvores.

    Hoje, sou eu quem se abraça àquelas árvores. Quando me pego desprevenido, já estou grudado àqueles caules centenários das araucárias. Faço isso com o intuito de não apenas absorver as suas energias, mas também tentar ouvir as histórias que se passaram por ali centenas de anos atrás.

Parece coisa de louco, e acho que é mesmo. Mas o que de fato acontece é que quando abarco aquelas árvores e fecho os olhos, parece que o passado está todo ali me soprando aos ouvidos as histórias dos nossos antepassados.

Agora o que posso e devo fazer é recolher e contar essas histórias. Será uma homenagem digna ao meu avô e a tudo aquilo que ele me ensinou.

Ano Novo, Tudo de Novo

Começa mais um ano e as coisas continuam como sempre foram.

Contas para pagar, coisas para consertar, coisas para se comprar.

No entanto, há sempre uma esperança que se enraíza dentro de nós.

Sempre há algum motivo, alguma ideia que nos provoca a ação imediata.

Um projeto que se faz urgente.

Planos para uma vida melhor e menos conturbada.

Amigos para serem abraçados.

Causos para serem contados.

Piadas para rirmos juntos.

Livros para serem lidos.

Poemas para serem declamados.

Canções para serem cantadas.

Versos para serem escritos.


 

Está tudo aí. Basta a gente olhar, e ver!


 

Um Feliz 2010 a todos!