João
Antônio descalça as velhas botas e entra com os pés descalços. A casa não
difere muito da sua, apenas mais envelhecida. Dependuradas na parede, somente
umas velhas esporas de prata, um arreador com cabo esculpido em madeira fazendo
alusão a uma cabeça equina, um chapéu de aba larga, barbicacho, uma imagem da
crucificação de Cristo e mais alguns petrechos espalhados pelos pregos.
Tio Guinas estava visivelmente animado com a visita
inesperada do afilhado, apesar de já ter uma ideia a respeito do motivo do
aparecimento. “Me diga uma cousa, meu filho, já nasceu a criança?, perguntou assim
logo de prima, sem rodeios, enquanto punha no fogo a chaleira cheia d’água para
preparar o mate.
“Inda não...”, João Antônio falou depois de alguns instantes,
com ar de quem está querendo dizer algo, mas não toma coragem.
O silêncio volta a reinar por um tempo no interior do casebre.
Apenas o bate-bate que o velho faz nos armários à procura dos ingredientes para
preparar o mate amargo.
Súbito João Antônio enche-se de coragem e começa a falar,
mesmo que titubeante.
“Pois é isso mesmo o
que me traz aqui... eu... mais a... mulher... queria que o padrinho... desse um
ajutório lá em casa... pra a mulher velha... poder ter a criança em paz...
“Mas é pra hoje a encrenca?”
“Tá querendo...”
“Mas bah! Então, assim que o guri do meu compadre chegar, que
tá vindo lá das bandas de Lages, eu mando ele de já hoje mesmo lá pra fazenda
do coronel Osório... É que eu ia pra lá hoje pra fazer uma lida... mas daí eu
mando o guri...”
“Mas não precisa de se incomodar, padrinho...”
João Antônio permanece cabisbaixo como se sua esperança o
estivesse abandonado.
“Mas não se desacorçoe homem, assim que o guri chegar,
eu me debando lá pra tua casa. Mais tardar amanhã cedo, na barra do dia... Tô
louco pra ver a cara do bacuri!”