sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Causos e rumores

Tio Guinas gosta de ficar numa roda de chimarrão com os mais moços e contar os seus causos e lendas da sua vida e da dos outros. Acrescenta sempre algo a mais nas suas narrativas, pois quem conta um conto aumenta um ponto, como se diz por estas bandas. Os ouvintes ouvem com atenção redobrada as histórias dos tempos de outrora. O velho fala pausadamente e com o palavreado típico da região serrana.
Está já com uns setenta e poucos anos, mas a memória ainda guarda intactas as lembranças da infância e da adolescência. Sua mãe era uma índia velha que viveu nas terras do coronel Francisco Fragoso, pai de Osório. Dizem alguns até que tio Guinas era filho legítimo do coronel Francisco. Outros apontam semelhanças entre os dois, Osório e ele. “Os olhos de guri arteiro são iguais aos do coronel”. No entanto, nada é comprovado. Naquele tempo ainda não existiam testes de DNA ou coisas parecidas. A verdade é que Aguinaldo da Silva, o tio Guinas, viveu a sua vida inteira nas terras do coronel Francisco e vive, ainda hoje, sob a proteção do coronel Osório, seu provável irmão.
Tio Guinas faz parte da história da fazenda Monte Alto. Está para ela assim como as taipas que singram as coxilhas e as araucárias que cobrem os campos e invernadas. A querência não é a mesma sem o tio Guinas. Os filhos do coronel Osório, quando chegam à fazenda para passarem as férias, a primeira coisa que fazem é correr para o galpão para ouvir-lhe os causos e anedotas. Adoram o tio Guinas como se este fosse um membro da família. Não sabem eles dos rumores que rondam sobre a suspeita da sua paternidade e do parentesco do velho com o avô dos piás. O coronel Osório não lhes fala nada a respeito, nenhuma só palavra. Decerto temeroso por ter que dividir, entre mais um, a herança dos filhos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário