sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Tio Guinas


Depois de pouco mais de meia hora de caminhada, avistou ao longe o rancho do tio Guinas. Um fio de fumaça saía pela chaminé do casebre. Sinal de que há gente na morada. A casa, vista assim de longe, parece incorporada à paisagem a sua volta. Já tomou a feição do mato e das árvores em derredor. A madeira, que já sofreu a ação e os efeitos da pátina do tempo, mais parece um tronco de uma grande árvore envelhecida. Assim como a morada de João Antônio, o rancho do tio Guinas também está virado numa tapera. Até dá pena.
O velho vive só naquele ermo. Sua casinhola também é desprovida de luxos, luz elétrica, água encanada, esgoto. Apesar de estarmos em meados dos anos setenta, tio Guinas, do mesmo modo que João Antônio e Maira da Graça, ainda vive como se fosse o início do século XX.
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João Antônio e Campeão aproximam-se do sítio. Um cão, que tio Guinas mantém acorrentado por detrás do rancho, latiu insistentemente. Instantes depois, a figura de um velho despontou na soleira da porta. Era o tio Guinas.
Tio Guinas é um caboclo velho trigueiro com sangue de índio botocudo. Quando mais moço, era famoso por suas façanhas nas domas e lidas de gado e de galpão. Não havia potro xucro que tio Guinas não desenganasse. Não temia os perigos da doma. Quando era tempo de vacinação ou marcação do gado, sempre escolhia algum touro ou boi brabo para montar e exibir-se para os outros, que gritavam e assoviavam empolgados pelo feito:
“Mas, ah, quera veio!”, gritavam.
Tio guinas também gosta de contar uns causos. Não perde tempo nem vez para falar das suas andanças e aventuras. Não pode ver uma roda de chimarrão que já se aprochega, assim meio que de revesguelho, como quem não quer nada, aguarda uma brecha ou que alguém lhe passe a palavra, e já vai falando, assim vagarosamente, num jeito sestroso, fazendo com que todos fiquem atentos, prestando atenção. Tio Guinas é como um grande artista. E esse é o seu palco. Esse é o seu grande número.

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