sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O dia de domingo


João Antônio levantou-se. No ato, sentiu uma fisgada na coluna. Com ambas as mãos postas em suas costas, ensaiou um alongamento meio que por impulso. “Também, dormi nesse cepo mais duro que trote de petiço manco, bem feito!” – esconjurou-se por ter passado parte da noite na cozinha. Caminhou na direção do quarto. A casa está ainda escura, pois o sol ainda tardaria a apontar no horizonte. Aproximou-se da porta do quarto com receio. Um medo de se deparar com uma nova vida ali e de ser pai o afligiu. Com a chegada da criança, as responsabilidades aumentam consideravelmente.
Espiou o interior do aposento e fez meia-volta. Reforçou o fogo, acrescentando alguns pedaços de lenha. Encheu a chaleira de água e a pôs para esquentar. Em seguida, fechou a portinhola e saiu. Lá fora, a neblina começava a se dissipar e o domingo prometia um dia bonito de céu azul. Uma brisa gelada soprava insistentemente. Campeão o aguardava do lado de fora. “Buenas, amigo veio, dormiu bem? Pois eu varei a noite...” – não perdia nunca essa mania de falar com cão e com outros animais. Ao terminar de falar, bocejou, soltando um grito gutural – “Êta, sono veio dos infernos!” – e dirigiu-se ao galpão contíguo a casa.
Como atrasou um pouco a ordenha, a vaca brasina já o aguardava na entrada do galpão e, volta e meia, mugia impacientemente. “Calma, Brasina veia! Para lá que já te tiro o leite”. Abriu a porteira e a vaca entrou com seu passo bovino e preguiçoso. O bezerro berrava obstinadamente. “Encosta!” – dizia João para que a vaca se posicionasse no lugar habitual da ordenha ao lado da estrebaria aonde dormira o vitelo. João Antônio abriu o portão da estrebaria para que o bezerro mamasse um pouco. Apojou e depois amarrou o boizinho próximo à cabeça da mãe, que mugia como se dissesse “Vem cá, meu filho!” e foi até o rancho passar o café. “Hoje vou tomar o camargo da Brasina.”
Alguns minutos depois, estava de volta ao galpão, com a chocolateira e outros petrechos. Ordenhou e no final, bebeu o camargo, soltando, e seguida, a vaca com sua cria no potreiro. Tratou das galinhas e foi buscar água para os serviços caseiros no córrego aos fundos do rancho, distante apenas alguns metros. De volta a casa, preparou tudo como de costume e saiu pro campo. O domingo prometia novidades para aquele cafundó e João Antônio parou por um instante em frente à casa e olhou para trás, fechando o semblante – “Acho que de hoje não passa” – e continuou o seu caminho.

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