Ao
chegar aos campos da encosta, depois de meia hora de caminhada, João Antônio foi
direito à grande timbaúva, onde havia deixado no dia anterior, em uma cavidade
do tronco da velha árvore, o machado, a enxada, a foice, a pá e o serrote, para
não ter de ficar carregando peso em vão.
Sentou-se ao pé da árvore para descansar um pouco da
caminhada e logo depois deu início à longa jornada do dia. O sol, nessa hora,
já se mostrava com menos timidez. Decorrido algum tempo, o suor escorreu-lhe
pela cara. De quando em quando passa a mão pela testa e descansa um pouco. O
trabalho árduo e repetitivo do ir e vir da foice faz com que suas costas doam
muito. Pára. Pega a enxada. Arranca alguma raiz teimosa, larga a enxada, pega a
foice e recomeça e pára novamente. Descansa um pouco mais. E nessas horas de
repouso, pensa no que será de sua vida e na de Maria da Graça com a chegada da
criança. Pensa em abandonar tudo, atrelar o carro de boi, carregá-lo com os
tarecos e sair com a mulher e a filha. Mudar de lugar e de vida. Mas logo se
irrita consigo mesmo, pois nem o carro nem os bois são seus, e, sim, do coronel
Osório. Dá um soco no vento como que para espantar a nuvem de pensamentos, acende
mais um cigarro e volta ao trabalho.
Mas continua pensando. Não tem dinheiro para comprar coisas.
Não sabe ler nem escrever. Mal escreve o próprio nome. Não passa de um escravo
nas mãos do coronel. Deve a este tudo o que tem. Apesar disso, o coronel é uma
boa pessoa, pois o acolheu em suas terras e lhe deu trabalho, comida e abrigo.
João Antônio pensa no coronel e fala com certo orgulho, “Vou convidar o coronel
pra ser o padrinho da criança!”. E volta orgulhoso ao trabalho e sorri para seus próprios
pensamentos.
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