sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Matutando


João Antônio segue o seu caminho pensando na vida e falando alto consigo mesmo. Seus passos quebram o pasto congelado pela geada. Da sua boca sai um vapor, devido ao intenso frio. Seus pés estão gelados e o vento arde-lhe o rosto e as mãos.
Pára um instante e tira da orelha um crioulo. Acende-o, tapando o fogo com a mão esquerda, que forma uma concha para tapar o vento. Olha para o se companheiro, a cachorro Campeão e dirige-lhe a palavra como se estivesse conversando com uma pessoa.
“É, companheiro, a geada velha foi de quebrar o capim!”
O cão, que vai à frente, pára e olha o dono alçando as orelhas, sinalizando que está ouvindo, mas não compreendendo as palavras. Abana a cola e prossegue o seu caminho.
João Antônio vai matutando coisas sem nexo. Sonha em adquirir um pedaço de terra. Pensa na criança que está por nascer. Lembra-se da mulher. Fala ao cão:
“É, Campeão, vamos aproveitar que estamos por estas bandas e dar uma passada no rancho do padrinho Guina.”
O cão olha para o dono novamente e, como que consentindo, abana o rabo. Conhece a palavra “guina” e sabe que esse som relaciona-se com a pessoa do tio Guina. Campeão gosta muito do padrinho do dono e põe-se ansioso. Mas logo percebe que não será agora que irão ao rancho do amigo. Súbito, abaixa a cola e volta-se ao caminho.
No cabo de alguns segundos, João Antônio fala novamente:
“Tô com um pressentimento de que a coisa é pra hoje mesmo... mais tardar pro fim da semana.”
Esse pensamento exteriorizado refere-se à gravidez da mulher e ao parto que se aproxima.

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