João Antônio segue o seu caminho
pensando na vida e falando alto consigo mesmo. Seus passos quebram o pasto
congelado pela geada. Da sua boca sai um vapor, devido ao intenso frio. Seus
pés estão gelados e o vento arde-lhe o rosto e as mãos.
Pára um instante e
tira da orelha um crioulo. Acende-o, tapando o fogo com a mão esquerda, que
forma uma concha para tapar o vento. Olha para o se companheiro, a cachorro
Campeão e dirige-lhe a palavra como se estivesse conversando com uma pessoa.
“É, companheiro, a
geada velha foi de quebrar o capim!”
O cão, que vai à
frente, pára e olha o dono alçando as orelhas, sinalizando que está ouvindo,
mas não compreendendo as palavras. Abana a cola e prossegue o seu caminho.
João Antônio vai
matutando coisas sem nexo. Sonha em adquirir um pedaço de terra. Pensa na
criança que está por nascer. Lembra-se da mulher. Fala ao cão:
“É, Campeão, vamos
aproveitar que estamos por estas bandas e dar uma passada no rancho do padrinho
Guina.”
O cão olha para o
dono novamente e, como que consentindo, abana o rabo. Conhece a palavra “guina”
e sabe que esse som relaciona-se com a pessoa do tio Guina. Campeão gosta muito
do padrinho do dono e põe-se ansioso. Mas logo percebe que não será agora que
irão ao rancho do amigo. Súbito, abaixa a cola e volta-se ao caminho.
No cabo de alguns
segundos, João Antônio fala novamente:
“Tô com um
pressentimento de que a coisa é pra hoje mesmo... mais tardar pro fim da
semana.”
Esse pensamento
exteriorizado refere-se à gravidez da mulher e ao parto que se aproxima.
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