sexta-feira, 9 de setembro de 2011

O posteiro


O cachorro Campeão segue o dono, que com o seu facão na cintura e a guaiaca a tiracolo, dirige-se para a encosta da invernada grande, nas terras do coronel Osório. Vai arrancar as vassouras secas que tomam conta do campo. Já aproveita para fazer um pouco de lenha.
Esse é um dos serviços que ele presta ao coronel Osório. João Antônio é um dos posteiros da Fazenda Monte Alto. O coronel cedeu o pedaço de terra onde havia antiga tapera do João Maria para que o rapaz construísse o rancho. Em troca disso, tem de cuidar da manutenção das cercas, do gado e ajudar quando nas lidas da fazenda – tosquia das ovelhas, marcação, vacinação, castração, doma, no quintal, na lavoura, na reforma de alguma casa ou galpão, arrancar caraguatás. Enfim, todo tipo de serviço.
Vez por outra, o coronel lhe dá um leitão ou um borrego. João não recebe salário em dinheiro. Só recebe em dinheiro quando a necessidade aperta, quando na compra de algum medicamento ou utensílio de que precise no dia a dia. Tudo o que precisa pede ao coronel. Uma galinha poedeira, um galo novo, uma saca de farinha, um quilo de arroz para comer com o feijão que planta, um pedaço de carne.
A roupa que usa, no mais das vezes, também é doada pelo coronel ou por sua família. Um xale ou um casaco já desbotado e guardado há tempos nos armários e baús do casarão, Maria da Graça recebe-o com muito agrado. Uma bota velha ou um sapato com a sola se despregando, João Antônio a usa, e com muito orgulho.
“O coronel Osório é homem muito bom” – diz.
Mas na verdade, o coronel Osório é quem se beneficia com isto. João Antônio vive com a mulher nas terras do coronel e, em troca disso, paga com o suor do trabalho o arrendamento da terra. No entanto, quando não mais precisar dos serviços prestados por João, o coronel pode, assim no mais, mandá-lo embora, só com a capa da gaita.

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