O
cachorro Campeão segue o dono, que com o seu facão na cintura e a guaiaca a
tiracolo, dirige-se para a encosta da invernada grande, nas terras do coronel
Osório. Vai arrancar as vassouras secas que tomam conta do campo. Já aproveita
para fazer um pouco de lenha.
Esse é um dos serviços que ele presta ao coronel Osório. João
Antônio é um dos posteiros da Fazenda Monte Alto. O coronel cedeu o pedaço de
terra onde havia antiga tapera do João Maria para que o rapaz construísse o
rancho. Em troca disso, tem de cuidar da manutenção das cercas, do gado e
ajudar quando nas lidas da fazenda – tosquia das ovelhas, marcação, vacinação,
castração, doma, no quintal, na lavoura, na reforma de alguma casa ou galpão, arrancar
caraguatás. Enfim, todo tipo de serviço.
Vez por outra, o coronel lhe dá um leitão ou um borrego.
João não recebe salário em dinheiro. Só recebe em dinheiro quando a necessidade
aperta, quando na compra de algum medicamento ou utensílio de que precise no
dia a dia. Tudo o que precisa pede ao coronel. Uma galinha poedeira, um galo
novo, uma saca de farinha, um quilo de arroz para comer com o feijão que
planta, um pedaço de carne.
A roupa que usa, no mais das vezes, também é doada pelo
coronel ou por sua família. Um xale ou um casaco já desbotado e guardado há
tempos nos armários e baús do casarão, Maria da Graça recebe-o com muito
agrado. Uma bota velha ou um sapato com a sola se despregando, João Antônio a usa,
e com muito orgulho.
“O coronel Osório é homem muito bom” – diz.
Mas na verdade, o coronel Osório é quem se beneficia com
isto. João Antônio vive com a mulher nas terras do coronel e, em troca disso,
paga com o suor do trabalho o arrendamento da terra. No entanto, quando não
mais precisar dos serviços prestados por João, o coronel pode, assim no mais,
mandá-lo embora, só com a capa da gaita.
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