João
Antônio soltou a vaca brasina e a cria no potreiro e dirigiu-se para casa, onde
a mulher o esperava com a cara ainda inchada do sono mal dormido. O café recém
passado estava posto na velha mesa carcomida pelo tempo e pelo uso. Apesar do
incômodo da enorme barriga, Maria da Graça não se entregava à preguiça e
dedicava-se aos afazeres caseiros com muito afinco.
“Buenas! Como é que tá o brasininho, já tá firme das pernas?”
– perguntou.
“Tá bom” – ele respondeu seco sem muita vontade de falar. E entregando
a vasilha do leite para a esposa, “Amanhã podemos tomar o camargo”, e foi se sentar
no cepo junto ao fogão.
Na casa, iluminada apenas por um lampião dependurado num dos
pregos da parede, não havia luz elétrica. O casal já nem sentia falta das
vantagens e do conforto que a eletricidade proporciona. Cada um ficava com os
seus pensamentos naquela penumbra. “Tenho que arrumar um berço pra essa
criança”, pensava o homem enquanto fumava o seu cigarro de palha. Já a mulher
pensava no parto e em chamar alguém para cuidar do rancho por alguns dias.
“Acho que temos que chamar o compadre Guinas pra fazer um
ajutório aqui em casa...” – começou Maria da Graça, quebrando mais uma vez o
silêncio daquela manhã gelada – “Acho que tá pra rebentar! É capaz de nascer a
qualquer hora...”
“Hum!” – resmungou o homem, num misto de concordância e
irritação.
“A mulher tem razão, tenho que chamar o padrinho. Tenho
muita coisa pra fazer e não tô dando conta” – refletiu enquanto a esposa servia
o café e punha um pedaço de pão de milho sobre a mesa.
“Vou ver se falo com o padrinho...” – disse.
¨
João Antônio tomou o
café e saiu pro campo. Maria da Graça sentou-se na cadeira forrada por um pelego
e ficou bordando uma peça de roupa para a criança que esperava.
Lá fora, o minuano varria o céu e o sol espantava o
frio. O silêncio era quebrado de quando em quando pelo canto dos pássaros.
Adorei o conto,muito bem escrito,com termos
ResponderExcluirregionais...bem interessante beijos Tia T.