sexta-feira, 8 de julho de 2011

Campeão

A ninhada, por pouco, não vinga. Se não fosse por Coleira, todos os guaipequinhas tinham morrido. Coleira foi tão zelosa no cuidado dos filhotes, que os escondeu por quase duas semanas sem que ninguém pudesse descobrir aonde foi que ela havia dado à luz àquela ninhada toda. Por sorte, Coleira, quando percebeu que seus filhotes estavam em maus lençóis, pediu logo ajuda ao dono. “Até parece gente esse bicho”, dizia o dono.
João Antônio lidou para saber onde era o esconderijo da cadela, mas não teve jeito, pois não se ouvia ganidos nem sinais dos guapequinhas e os serviços na fazenda eram demasiados para poder ficar de folga assim no mais à procura de cachorros recém-nascidos.
Eram cinco filhotes. Todos parecidos e de pelagem tigrada. Exceto um, que trazia a pelagem da mãe. O fato de quatro cachorros serem do mesmo tipo de pelo, dava a certeza de quem era o pai, um cachorro graúdo da fazenda vizinha. Esse cão também trazia a pelagem mosqueada, de um marrom-acinzentado. Parecido com um cão pastor.
Já a mãe, Coleira, recebeu esse nome por causa da pelagem branca que envolve o pescoço, tomando a forma de uma gargalheira. Essa coleira se estende à barriga e às quatro patas. O restante do corpo tem a pelagem amarelo-ovo. Os pelos são duros e curtos, assim como os do cão da fazenda vizinha. Coleira é de médio porte. A raça, indefinida, com laivos de pointer, porém menor, misturado com algum terrier desenxabido.
Quando Coleira mostrou a João Antônio o esconderijo da ninhada, os filhotinhos estavam com suas vidas por um triz. “Se eu demorasse mais um dia pra achar a toca, acho que nenhum sobrevivia...”, disse o homem para a sua mulher, Maria da Graça.
Desde o instante em que João Antônio salvou os guapequinhas, já escolheu um como seu predileto. E era justamente aquele parecido com a Coleira. “Acho que vou querer ficar com esse daqui. Gostei mais desse guapevinha por causa que ele é o mais acabrunhado de todos.” O homem ficou um momento calado, pensando, e disse assim como quem fala pra si próprio: “Se ele sobreviver, o nome dele vai ser Campeão.”

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