sexta-feira, 18 de junho de 2010

A morte de um ícone

O escritor português José Saramago, primeiro Prêmio Nobel em Língua Portuguesa, morreu nesta sexta-feira em sua casa aos 87 anos. O autor, cuja frágil saúde provocou temores sobre sua vida há alguns anos, pu-blicou no final de 2009 seu último romance "Caim", um olhar irônico sobre o Velho Testamento, muito criticado pela Igreja.

José Saramago é um dos maiores escritores de todos os tempos. Sua literatura é ampla, complexa e extremamente racional, apesar de seus deslizes pelo mágico e pelo alegórico. Seus textos são truncados, cheios de idas e voltas. Um texto opaco. Mas no final de cada leitura, o leitor é quem se sente opaco, cheio de dúvidas, certezas e incertezas. Um texto até mesmo bíblico, apesar de ser “anti-bíblico” no conteúdo.

Minha relação com a obra do escritor português se deu através da música. Foi através de outro grande artista: Chico Buarque. O primeiro livro que li de Saramago foi O conto da ilha desconhecida. Depois, seguiu-se o Memorial do Convento, este belíssimo relato histórico-alegórico da construção do Convento de Mafra, em Portugal. Desde então, nunca mais deixei de ler os seus textos e livros.

Minha visão de mundo tornou-se, depois de conhecer a obra do es-critor, mais centrada e crítica. Sou um quase-ateu, para não dizer ateu mesmo. Minha opinião sobre religião está de acordo com as opiniões do autor português. Concordo com quase tudo o que escreveu. "O ser humano inventou Deus e depois escravizou-se a ele", disse o escritor certa vez. E estamos escravizados e continuaremos ainda por muito tempo...

Uma perda lastimável. Um ícone.

Nenhum comentário:

Postar um comentário