quarta-feira, 25 de novembro de 2009

“Orgulho”, o pequeno grande conto de Rubem Fonseca

Dono de um estilo ímpar dentro da Literatura Brasileira, Rubem Fonseca consegue transformar um simples fato corriqueiro em uma arte que nos arrebata e nos faz pensar sobre o que somos, nos nossos defeitos e qualidades, e, no caso do conto a ser estudado, no nosso orgulho.

    O conto "Orgulho", publicado em 1995, no livro "Buraco na Parede", da Companhia das Letras, narra os momentos de aflição da personagem que está numa mesa de cirurgia. Passa-lhe pela cabeça imagens e lembranças de fatos que o marcaram – mulheres, o "ovo de madeira muito liso e macio" com que sua mãe cerzia as meias que ele usara, um relógio muito valioso etc. O personagem, acima de tudo, lembra de ter sido sempre muito orgulhoso.

    A maneira que o autor apresenta a narrativa é extremamente eficaz. Só um grande conhecedor da língua é capaz de alcançar tal eficácia, pois o autor usa e abusa das orações coordenadas aditivas, eliminando, destarte, os pontos finais. E é justamente isso que faz com que o leitor sofra e sinta, junto com a personagem, a falta de ar e a agonia de morte da qual esta sofre.

    Exímio narrador, Rubem Fonseca utilizou-se do mesmo recurso que o escritor português José Saramago utiliza (ou melhor, não utiliza): a pontuação. Ou seja, faz uso apenas de alguns sinais de pontuação – as virgulas e os pontos (sendo que estes últimos aparecem apenas nas últimas linhas da narrativa).

    A narrativa possui uma força poética como poucas, pois trata de analisar o que se encontra nos mais recônditos sentimentos da espécie humana. O amor-próprio exagerado, a autovalorização, a vaidade, a soberba, o orgulho, tudo isso o autor revela no decorrer da narrativa, com extrema capacidade de argúcia. O leitor sente-se arrebatado pela força da narrativa, como se fosse a própria personagem.

O crítico Silviano Santiago escreveu no verso dos Contos Reunidos de Rubem Fonseca, lançado em 1994 pela editora Companhia das Letras: "Num estilo literário que imita as seduções de planta carnívora, os contos de Rubem Fonseca dramatizam com rigor inédito esse tema universal e regional, palpável e escorregadio. O corre-corre do trabalho e as horas de merecido lazer são preenchidos pelos diversos rituais da perversidade e da alegria sádica. No caso dos marginais ao sistema, a luta pela sobrevivência miserável celebra a orgia escatológica de corpos e armas mortíferos".

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