João Antônio voltou ao trabalho no campo. No
caminho, ia pensando na mulher e em construir ou improvisar um berço para a
criança que estava por nascer. Ainda não sabia se seria guri ou uma menina.
Trabalhou o resto da tarde, juntou suas ferramentas e se preparou para regressar
a casa.
Enquanto o dono roçava o
campo, Campeão permaneceu deitado sob a sombra da grande timbaúva. Assim que o João
Antônio começou a guardar as ferramentas em um abrigo no vão do tronco da
árvore, o cão já se postou de pé e se pôs em estado de ansiedade. Queria ir
para casa. E lá se foi o homem seguido por seu cão, assim como todo amigo leal
e companheiro, sempre o acompanhava de perto.
Chegou ao rancho pouco antes
do pôr-do-sol. O frio daquele fim de tarde era de rachar. Entrou e encontrou a
mulher sentada na penumbra do aposento, cosendo uma roupa de criança ao redor
do fogão à lenha. Maria da Graça soltou um suspiro e disse, “Já voltou, é? Como
é que foi lá pros campos de já-hoje? Tudo na santa paz?”.
Ele respondeu apenas com
grunhido, sem vontade. João Antônio é um homem de poucas palavras. Mas um tempo
depois, falou, “Fui lá na casa do padrinho Guinas de já-hoje...”
A mulher interrompeu o
bordado e ergueu a cabeça, esperando o resto do relato.
“Amanhã ou depois ele disse
que bate aqui por casa...”.
“Graças a Deus Nosso Senhor
mais a Virgem Nossa Senhora!”, disse Maria da Graça benzendo-se toda. “Deus
abençoe e guarde o compadre Guinas.” Ficou um instante em silêncio como se uma
desilusão tivesse enchido o seu semblante, como um sentimento de abandono, “E cadê
a mãe, que até agora não deu o ar da graça... e nós aqui nesse cafundó onde o
Judas perdeu as botas... até parece que se esqueceu da gente... Cruz credo!”.
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