sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Revirando os pensamentos


João Antônio pôs-se a reavivar a brasa com um graveto. Reforçou o fogo com dois pedaços de lenha. Sentou-se à mesa onde o esperava um pedaço de pão de milho que a mulher havia preparado há uns três dias. O homem comeu, absorto, o seu pedaço de pão.
“Vou enjambrar um berço com uns pedaços de pau que têm lá no galpão...”
“Ah, é boa mesmo... pois eu acho que não passa de já-hoje... tô com uns embrulhos aqui assim, ó”, disse Maria da Graça indicando com a mão o ventre pronunciado.
João Antônio fecha o semblante e sai para a noite escura em direção ao galpão, cabisbaixo. A preocupação o aflige. O cachorro Campeão permanece deitado na soleira da porta. Segue o dono com os olhos. Solta um suspiro profundo e volta a cochilar. João esforça-se para enxergar, mas o lusco-fusco vai ficando cada vez mais escuro até o breu ser total. No galpão, dirige-se à parede onde está o coto de vela. Acende-o. As sombras aumentam e diminuem com a chama incerta. Procura no monte de lenha alguns pedaços de madeira para a construção do berço.
João revira o monte de lenha e depara-se com um cocho velho prestes a virar lenha. O cocho fora feito escavado em um tronco de uma araucária centenária. Ao avistá-lo, seus olhos brilham. “É esse mesmo! Vou lavar bem esse cocho e improvisar uma cama pro neném”, pensou.
Retira o cocho do monte e analisa-o com mais cuidado. “Se cavocar um pouquinho aqui e ali, fica especial”, diz em voz alta coçando a cabeça.
Vai até o outro lado do galpão. Volta com o carrinho de mão. Agarra o cocho com suas mãos fortes e rudes de lavrador. Ergue-o. Depõem o cocho no carrinho. “Vou deixar pra amanhã. Já tá muito tarde e tá um frio desgramado”.
Apaga a vela e volta para casa. Entra e vê Maria da Graça com a mão no ventre e respirando com dificuldade. “É... acho que a encrenca não passa de já-hoje mesmo”, resmunga para si mesmo e senta-se no cepo junto ao fogão e fica revirando a brasa e os seus pensamentos.

Um comentário:

  1. Olá, João, tudo certo?

    Antes de mais nada, parabéns pelo sucesso da banda Thezorden e pelos textos aqui do blog. Gostaria de falar contigo sobre a banda, mas não encontrei um email para contato em nenhum lugar. Se possível, você poderia entrar em contato comigo? cgrahl@gmail.com

    Abraços!

    Carlos Augusto Grahl

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