sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Chimarreando



Tio Guinas levanta-se e dirige-se até o fogão à lenha pegar a chaleira, onde a água ferve. Enche a cuia e ajeita a bomba da melhor maneira. “E le digo mais, meu afilhado, se não nasceu na mudança da lua, então vai ser só pra depois que mudar de novo pra lua nova, daqui uns dois ou três dias...”
Tio Guinas fala de Maria da Graça, mulher de João Antônio, que está prestes a ganhar o primeiro filho. Enquanto isso, o rapaz se ajeita num canto do aposento para preparar o seu cigarro de palha.
Depois de um longo tempo de silêncio entrecortado pelos chupões que o velho dá na bomba do mate. João Antônio nada fala. Pita o seu palheiro em silêncio, soltando a fumarada com longos suspiros. Está visivelmente apreensivo. “Tá bom... quando o senhor puder ir, é só ir...”.
Tio Guinas nem ouve o que outro fala. Está entretido com o seu chimarrão. Chupa o líquido quente, que faz pelar a língua, e manuseia a bomba, ajeitando-a de modo que a cuia não entupa com a erva. “Iiihhaa”, solta um grito eufórico e fala ainda em voz alta “Roncou a bicha veia!”, e dá uma gaitada, louco de faceiro. Toma a primeira cuia, como é de costume e tradição, e oferece ao afilhado.
João pega a cuia e toma o mate em silêncio. Ao término, entrega-a novamente ao anfitrião. Levanta-se e despede-se do padrinho.
“Deus lhe ajude... tenho de ir... espero que o padrinho apareça lá por casa pra amanhã ou depois... até.”
“Mais tardar pra depois de amanhã eu apareço. Não se apoquente à toa, guri, que esse homem velho aqui é homem de palavra!”
João Antônio sente–se agora um pouco menos incomodado. Olha para o horizonte como se avistasse uma salvação, solta um suspiro longo e diz, “A bênção, padrinho!”
“Deus le abençoe! Deus le guie!”
O cachorro Campeão, que o esperava deitado no limiar do rancho, levanta-se e empina as orelhas logo que o dono diz, “Vamos”. Os dois saem em direção ao horizonte e o velho acompanha-os com os olhos até os perder de vista.

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