Tio Guinas levanta-se e dirige-se até
o fogão à lenha pegar a chaleira, onde a água ferve. Enche a cuia e ajeita a
bomba da melhor maneira. “E le digo
mais, meu afilhado, se não nasceu na mudança da lua, então vai ser só pra depois
que mudar de novo pra lua nova, daqui uns dois ou três dias...”
Tio Guinas fala de
Maria da Graça, mulher de João Antônio, que está prestes a ganhar o primeiro
filho. Enquanto isso, o rapaz se ajeita num canto do aposento para preparar o
seu cigarro de palha.
Depois de um longo
tempo de silêncio entrecortado pelos chupões que o velho dá na bomba do mate. João
Antônio nada fala. Pita o seu palheiro em silêncio, soltando a fumarada com
longos suspiros. Está visivelmente apreensivo. “Tá bom... quando o senhor puder
ir, é só ir...”.
Tio Guinas nem ouve o
que outro fala. Está entretido com o seu chimarrão. Chupa o líquido quente, que
faz pelar a língua, e manuseia a bomba, ajeitando-a de modo que a cuia não
entupa com a erva. “Iiihhaa”, solta um grito eufórico e fala ainda em voz alta
“Roncou a bicha veia!”, e dá uma gaitada,
louco de faceiro. Toma a primeira cuia, como é de costume e tradição, e oferece
ao afilhado.
João pega a cuia e
toma o mate em silêncio.
Ao término, entrega-a novamente ao anfitrião. Levanta-se e
despede-se do padrinho.
“Deus lhe ajude...
tenho de ir... espero que o padrinho apareça lá por casa pra amanhã ou depois...
até.”
“Mais tardar pra
depois de amanhã eu apareço. Não se apoquente à toa, guri, que esse homem velho
aqui é homem de palavra!”
João Antônio sente–se
agora um pouco menos incomodado. Olha para o horizonte como se avistasse uma salvação,
solta um suspiro longo e diz, “A bênção, padrinho!”
“Deus le abençoe! Deus le guie!”
O cachorro Campeão,
que o esperava deitado no limiar do rancho, levanta-se e empina as orelhas logo
que o dono diz, “Vamos”. Os dois saem em direção ao horizonte e o velho
acompanha-os com os olhos até os perder de vista.
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