sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Uma resoluçao

Quase todos os dias, João Antônio cata gravetos e grimpas no capão de trás da sede da fazenda Monte Alto para facilitar a vida de Maria da Graça. O rapaz dedica-se totalmente à moça. Faz isso por amor e afeto.
Os dois quase nunca trocam palavras entre si. Apenas alguns olhares furtivos e de soslaio. Uns sorrisos acanhados e sem motivo aparente, o que os outros acham estranho. Seu Juca, o pai de Maria da Graça, acha esse comportamento dos namorados muito engraçado. “Esses dois até parece que são é meio fraco das ideias!”, diz o velho achando graça, pois sabe que é coisa de gente moça esse negócio de andar com a cabeça nas nuvens.
Quanto ao rapaz, seu Juca tem uma teoria formada. “São essas lendas e causos que o tio Guinas vive contando pra esse guri. Essas coisas de fantasia e de invenção que o velho inventa... Fica é colocando caraminholas na cabeça do guri”.
Já a mãe de Maria da Graça, dona Anunciata, diz que “os dois tão ‘percisando’ é de tomar jeito”.
Mas dona Anunciata gosta muito de João Antônio, mesmo achando também que ele é “meio avoado”. No entanto, nem o pai nem a mãe sabem o que se passa na cabeça da filha e do pretendente a genro, mas desconfiam que andam de namorico e que a filha tem muito apresso pelo rapaz.
A verdade é que João Antônio dificilmente conversa com alguém. Fala muito consigo mesmo. Algumas vezes, conversa com a cachorra Coleira, que empina as orelhas e mexe a cabeça de um lado para outro como quem presta atenção redobrada ao interlocutor que lhe dirige as palavras. Na verdade essas palavras proferidas pelo rapaz são direcionadas para si mesmo. Ele usa o diálogo com a cadela para exteriorizar os pensamentos e para dar ordem às ideias que se acumulam em sua cabeça.
¨
Nesse momento João Antônio, que está em frente ao espelho, tomou uma resolução. E enchendo-se de coragem, pensou alto, “Vou lá falar com ela... não posso mais ficar nessa lenga-lenga!”.
E foi.

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