sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O alvorecer


João Antônio sentou-se na beira da cama, procurou com os pés tateantes as alpargatas e passou a mão direita pelos cabelos desgrenhados. Olhou de soslaio para o vulto da mulher que ainda ressonava. Suspirou fundo. Estava preocupado com a gravidez da esposa. O nascimento da criança era esperado para aqueles dias do final do inverno. O ventre da futura mãe estava já bem pronunciado.
Era pouco mais de quatro horas da madrugada e o frio intenso lá fora preparava a geada que prometia ser das grandes. O silêncio era quase completo naquele pequeno quarto escuro. De quando em quando era quebrado pela respiração ofegante de Maria da Graça que dormia profundamente.
João Antônio levantou-se e dirigiu-se à janela para averiguar como estava o tempo. Lá fora o vento minuano assoviava e balançava os galhos secos do velho ipê. O campo brilhava ao luar com a geada em formação. Parecia todo coberto de prata.
“Geadona veia das brabas”, disse resmungando para si mesmo e saiu do quarto esfregando as mãos para esquentar os dedos enrijecidos pelo frio.
No outro cômodo da casa, que eram apenas dois, o pequeno quarto e a cozinha, que também servia como sala e despensa, João começou a preparar as coisas para o novo dia que nascia. Juntou uns gravetos e pôs-se a acender o fogo. Pouco tempo depois, a casa iluminou-se com a chama e o calor do fogo que lutava para espantar o frio que entrava pelas frestas das janelas e das paredes do casebre.
João Antônio olhou pela janela da cozinha e viu o cachorro Campeão que dormira enrolado em si mesmo num nicho debaixo da casa. O homem, com pena do animal, resolveu abrir a porta.
“Bamo, Campeão, se aprochegue”, convidou o dono, que fala mais com os animais que com a própria mulher. O cachorro entrou e dirigiu-se para o seu canto ao lado do fogão.
Lá fora, o vento soprava e o alvorecer branquejava a paisagem invernal.

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