sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Maria da Graça


Maria da Graça está na cozinha preparando a mesa para o café da manhã dos patrões, o cel. Osório e sua família. No fogão à lenha, o fogo está aceso e a chaleira começa a chiar. Enquanto espera a água ferver, prepara a cuia para o mate. Maria da Graça gosta de matear logo nas primeiras horas do dia. Adquiriu o hábito com o seu pai, o seu Juca.
A moça gosta dessa hora da manhã, pois é quando fica só no casarão esperando os patrões acordarem e seu pai, sua mãe ou (quem sabe?) João Antônio voltarem da ordenha com o leite fresco. Vez por outra é o próprio João Antônio quem traz o leite para ela. Mas os dois não trocam muitas palavras entre si. Só alguns olhares acanhados de quando em quando.
Por causa do barulho que faz, Maria da Graça fecha a porta da cozinha que dá acesso aos outros aposentos do casarão e liga o rádio. Nesta hora do dia, a programação da rádio local é de músicas campeiras. Vez por outra, o locutor anuncia a próxima canção, fala dos produtos dos anunciantes, diz a hora certa e fala do tempo com aquela voz grave e pausada de radialista de interior.
“Hora certa: em Santa Cruz da Encruzilhada, seis horas e dezenove minutos. O céu azul promete mais um dia quente na região serrana. No momento: dezesseis graus. Na Rádio Encruzilhada, mais um sucesso d’Os Bertussi, “Oh, de casa!”
A cozinha enche-se ao som dos primeiros acordes da moda. Maria da Graça acompanha a música com sua voz desafinada e sem saber direito os versos da canção. Só o refrão ela canta com mais certeza. Acompanha a moda por instinto, sem se importar se está cantando certo. Mas canta mesmo assim. Gosta de música. Depois que o coronel Osório adquiriu o rádio, não o desliga nunca. Deixa-o ligado praticamente o dia inteiro. Fica sabendo de tudo através da programação. Das novidades, das notícias da região, das festas e até mesmo da política local, mas não compreende muito bem essas coisas todas. Gosta mesmo é de ouvir as músicas e cantar junto aquelas letras que também nem sabe direito o que significam.
“Oh, de casa!... Oh, de casa!...”

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