sexta-feira, 13 de maio de 2011

Quem vem?

O frio daquele dia de inverno fez com que o povaréu se apertasse no interior da nave para ouvir a mensagem de paz e amor que o vigário dizia. O padre celebrava a missa domingueira com muito entusiasmo. Agradecia ao Senhor pela vida que levava naquela pequena cidade interiorana lá dos campos de cima da serra. Lá pelas tantas, o Joaquim Pinguço adentra pela porta central da igreja, causando um leve constrangimento nos fieis que estavam no fundo da construção. O bêbado chegou chegando. Cambaleava e esbarrava nos crentes, que, horrorizados, maldiziam o pobre bebum. O padre, percebendo o burburinho, resolveu interferir e botar ordem na casa:
“Um dia, quando o Senhor vier...”
“Ah, vem...” – gritou o Joaquim Pinguço interferindo no discurso do sacerdote, que continuou sem dar muita atenção.
“O Senhor, quando vier novamente nos visitar aqui neste mundo, todos teremos a paz tão desejada.”
No que o povo respondia no ato:
“Amém!”
Logo em seguida, a voz surgiu lá do fundo da capela, destoando das demais. Era o Joaquim Pinguço que dizia novamente, segurando a parede lateral da construção:
“Ah, vem...”
Todos olharam estarrecidos para o atrevido. O vigário, um pouco desconcentrado, tentou retomar o fio do pensamento do discurso.
“E Deus, olhando para nós, pobres almas aflitas, virá nos acudir!”
“Amém!”
“Ah! Vem...”
Outro constrangimento. Desta vez o cura não teve mais paciência e foi logo dizendo:
“E esses bêbados e vagabundos que ficam vagando pelas ruas da nossa querida cidade, incomodando a todos com sua falta de educação. Pra esses aí, eu vou chamar é a polícia!
E o Joaquim Pinguço não teve outra saída se não dizer:
“Ah, essa vem...”
E saiu de fininho apoiando-se nas paredes da Casa do Senhor.

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