sexta-feira, 6 de maio de 2011

Morrendo...

Era uma família humilde e sem muitas posses. O patriarca daquela pequena família era o seu Juca. Era um senhor de idade avançada e estava muito adoentado. Todos que o conheciam já não tinham muitas esperanças de que o pobre homem reconstituísse a sua boa saúde.
Numa noite de fins de agosto, o pobre do seu Juca, muito fraco e com a saúde fragilizada, sentiu um mal estar tremendo. A mulher, dona Catarina, viu o marido naquele estado lastimável, pálido como um fantasma, e cujas forças esvaindo-se como areia em ampulheta, saiu numa gritaria desesperada pelas ruas da cidade, pensando que o acamado estava de partida para o mundo dos pés-juntos.
Pouco tempo depois, a casa do seu Juca estava apinhada de gente. Os parentes e os vizinhos próximos foram os primeiros a chegar. Os curiosos, que nada tinham com o assunto, estavam todos ali de butuca à espera de algo.
Lá pelas tantas da madrugada, o coitado do seu Juca deu um suspiro profundo seguido de um gemido seco, tal qual o de um moribundo que expira. O padre, que lá estava, foi logo dando a extrema-unção. Por falta de vela, pois a família era de poucas posses, alguém sugeriu que depusesse nas mãos do falecido um tição para fazer às vezes da vela.
Estavam todos ao redor da cama rezando e velando o esticado. Foi quando o seu Juca, assim como quem volta de uma longa viagem ao outro mundo, abriu os olhos e viu aquele mundaréu de gente murmurando orações à sua pobre alma. De repente, deparou-se com o tição preso em suas mãos. Estranhou. Ficou pensando calado e olhando àquelas pessoas e não entendendo nada. Ninguém se deu conta de que o moribundo estava olhando atônito aquele episódio inédito. Súbito, o seu Juca diz com ar de grande filósofo:
– Morrendo... E aprendendo.

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