João
Antônio saiu do quarto e foi até o fogão verificar se o fogo ainda estava
aceso. Para sua tristeza, estava já apagado. Remexeu nas cinzas e uma brasa
cintilou. Catou uns gravetos e umas grimpas na caixa que fica atrás do fogão e
juntou tudo dentro do mesmo de modo a formarem uma espécie de cabana. Riscou um
fósforo, mas o nervosismo fez com que o palito se partisse. Tentou novamente.
Desta vez, foi sua própria respiração ofegante que apagou a chama. Na terceira
tentativa, conseguiu. Em seguida, o pipocar das grimpas foi como uma bateria de
fogos de artifício estrepitante.
Vindos do quarto, os gemidos da mulher deixavam-no cada vez
mais nervoso e apreensivo. De instantes em instantes, estalidos rompiam os
gravetos que ardiam ao serem lambidos pelas chamas. Esperou. Depois, resolveu
ir até o galpão para juntar uns pedaços de lenha seca para alimentar o fogo. Ao
abrir a porta da casa, um vento frio e constante arrepiou-lhe os pelos, desgrenhando-lhe
a cabeleira. De volta ao rancho, ajeitou uns tocos de lenha na pequena fogueira
de modo a não abafar o fogo. Depois de alguns minutos, o calor começou a
espantar o frio de dentro da casa.
Observou o comportamento do fogo por mais uns instantes e
resolveu encher a chaleira, toda preta de picumã, com água, depondo-a sobre o
fogão para ferver a água. Ficou matutando e zanzando pela cozinha sem saber o
que fazer. Seus movimentos eram distraídos e meio que atrapalhados. Apesar do
frio, o suor brotava-lhe na testa. A água então ferveu, mas João Antônio, no
entanto, nem se deu conta. Estava completamente absorto em seus pensamentos,
totalmente apreensivo, pois no quarto ao lado, a mulher, gemendo e contorcendo-se
de dor, gritou quase que desesperadamente. “Acuda, home do céu!”.
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