sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A lenda da gralha-azul


    O fim de tarde se aproximava quando 'tio' Guina apontou no chapadão. O velho tropeiro vinha da direção dos campos de Lages, montado numa mula, repontando uma tropa. Aquela noite passaria ali, pois no despontar da manhã seguinte, sua viagem continuaria para os lados da Serra, ruma à Laguna.
    O velho tropeiro, com mais de sessenta anos na cacunda, era conhecido apenas por 'tio' Guina. Apeou com um pouco de dificuldade, pois o tempo e a idade já o maltrataram as cadeiras, e dirigiu-se ao galpão aonde os outros homens o esperavam com o mate para espantar o frio.
   "Conte logo um causo pra nós, 'tio' Guina!" – gritou um dos tropeiros passando-lhe a cuia.
   'Tio' Guina olhou de soslaio para o homem e observou que os outros estavam ansiosos para ouvir o causo. Bombeou o mate e, depois, com calma, pôs-se a falar:
   "Diz' que há uma lenda da tal da gralha-azul, dessas que avoam e vivem gritando pelo pinhal. Os pinheiros, e é verdade, sempre nascem um bem pertinho do outro. Diz' que é a gralha que planta. É o que falam por essas bandas... Ela se alimenta do pinhão, mas é um bicho tão cobiçoso que pega mais pinhão que aguenta comer, então ele vai e enterra os pinhões aqui e ali pra guardar pra comer depois. Só que o tempo passa e o bichinho já não se alembra mais aonde foi que enterrou todos os pinhões, daí é que nasce esse pinheirame todo. E é por isso que não se pode matar nem caçar a gralha-azul. Quando um caçador aponta uma arma pr'uma gralha, a arma engasga e nega fogo."

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